Uma entrevista feita com o director Bernardo Bertolucci em 2013 ressurgiu na internet nos últimos dias, e tem causado uma grande indignação entre o público. Nela, Bertolucci conta sobre a clássica ‘cena da manteiga’ do filme O Último Tango em Paris, de 1972.
Protagonizada por Maria Schneider e Marlon Brando, na época com 19 e 48 anos, a cena mostra o personagem do actor usando manteiga como lubrificante para violar a personagem de Maria.
Na polémica entrevista o director teria dito que toda a cena foi real, e a actriz, pasmem-se, foi realmente violada por Brando. “A sequência da manteiga foi uma ideia que tive com Marlon durante a manhã, antes da filmagem. Queria a reacção dela como uma menina, não como uma actriz”.
Ontem, após receber inúmeras críticas inclusive de estrelas de Hollywood, o director se manifestou através de uma nota, onde afirma que tudo não passou de um mal-entendido:
“Há muitos anos na Cinémathèque Française alguém me pediu detalhes na famosa cena da manteiga. Eu especifiquei, mas talvez não tenha sido claro, que decidi com Marlon Brando não informar Maria que usaríamos manteiga. Queríamos uma reacção espontânea dela sobre o uso impróprio. Aí está o mal-entendido. Alguém pensou, e pensa, que Maria não tinha sido informada da violência contra ela. Isso é falso! Maria sabia de tudo porque ela tinha lido o script, no qual estava tudo descrito. A única novidade foi a ideia da manteiga. E isso, como eu fiquei sabendo muitos anos depois, ofendeu Maria. Não a violência à qual ela foi submetida na cena, que estava escrita no roteiro.”.
O director ainda disse que se sente culpado por tudo que aconteceu, mas que não se arrepende de nada, pois “para fazer filmes, e obter algo, às vezes precisamos ser completamente frios”.
Mas a verdade é que tratando-se de um caso de abuso contra uma mulher, pouco importa a opinião dos homens envolvidos, o que realmente interessa é o que Maria sentiu naquele momento. Ela já não está viva para trazer sua versão da história, mas em entrevista ao jornal britânico “The Daily Mail”, em 2007, disse que a cena da manteiga não estava no script e que teria sido uma ideia de Brando, durante as gravações. A actriz também disse que se sentia arrependida de ter feito o filme: “Eles enganaram-me. Eu senti-me humilhada e, para ser honesta, um pouco violada, tanto por Marlon, quanto por Bertolucci. Esta cena não estava prevista. As lágrimas que se vêem no filme são verdadeiras”.
Schneider, na época ainda virgem, nunca se recuperou emocionalmente da violência vivida, tendo mergulhado no mundo das drogas e sofrido de depressão profunda por anos. Ela faleceu em 2011, vítima de um cancro.
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